
Numa era em que a tecnologia inventa e reinventa produtos sem parar, tudo parece cair em desuso em cinco, no máximo dez anos. Videocassete? CDs? Disquetes de computador? Tudo que nos parecia moderníssimo sumiu das prateleiras com a mesma velocidade com que apareceu. Ou quase tudo. A velha e simples lâmpada elétrica é praticamente a mesma desde que Thomas Edison, num repente iluminado, a inventou há mais de 125 anos. Novos modelos surgiram, mas a lâmpada incandescente manteve o reinado nos lares de todo o mundo. Pois não é que acabam de assinar a sentença de morte da bojudinha? Sim, a Philips, líder mundial nesse mercado, anunciou que, no prazo de dez anos, deixará de vender esse tipo de lâmpada nos países da Europa. Logo foi seguida pelas demais fabricantes, como a Osram e a GE. Agora, é a própria Comunidade Européia que abriu um debate para transformar a decisão em uma regulamentação com força de lei. Não é difícil prever os próximos passos. Em breve, outros países e regiões, como Estados Unidos e América Latina, tomarão caminho semelhante e a simpática lâmpada incandescente estará com seus dias definitivamente contados.
Sua substituta no trono será certamente a lâmpada compacta eletrônica (CFL, em inglês), que a maioria chama de fluorescente. Por que tal mudança demorou mais de um século para ocorrer? Resposta: porque, em nenhum outro momento da história, houve um cenário tão favorável para a transição. A CFL consome muito menos energia do que sua concorrente tradicional e, numa época de aquecimento global, a preservação de recursos naturais abre as portas para mudanças profundas de hábito. “As novas tecnologias devem trazer benefícios para um tripé: as empresas, a sociedade e os consumidores”, afirma Yoon Young Kim, vicepresidente da Philips Lighting no Brasil. “A substituição das lâmpadas incandescentes atende a esse princípio.” Antes, porém, o consumidor terá que se convencer da validade de uma certa equação. Hoje, uma unidade CFL custa até três vezes mais do que uma bojudinha. Em compensação, sua vida útil atinge seis mil horas, contra apenas mil horas da concorrente. No item consumo de energia, sua vitória é absoluta: apenas 20% da incandescente.
O impacto da migração, portanto, é imenso. Afinal, a iluminação é responsável por 20% de todo o consumo de energia elétrica na Europa e no Brasil. “A relação custo-benefício é amplamente favorável”, diz Kim. “No Brasil, em função da renda, o consumidor resiste a esse tipo de cálculo, pois ele pensa apenas no primeiro desembolso. Esse é o desafio a superar.” Por aqui, as lâmpadas incandescentes respondem por 80% das vendas no varejo. Na Europa, essa proporção é de 40%. Para mudar esse cenário, a Philips realiza um paciente trabalho de conscientização: organiza eventos de treinamento para arquitetos e decoradores, monta apresentações para o mundo corporativo e orienta os vendedores de sua rede de distribuição. Será, enfim, uma transição lenta e gradual. E não poderia ser de outra forma: a Philips está mexendo num negócio vencedor em suas operações mundiais. Com ele, fatura mais de 5,5 bilhões de euros. Mudar um hábito centenário sem perder dinheiro é seu grande desafio.
Fonte Isto e dinheiro