As farmácias e drogarias podem perder até R$ 2,1 bilhões por ano se for aprovada uma nova regulamentação, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária ( Anvisa), que proíbe a comercialização de alimentos e bebidas nesses estabelecimentos. De acordo com as maiores redes varejistas do País, os produtos ligados à conveniência (balas, chocolates, refrigerantes, água) equivalem a 8% do faturamento total do setor, de R$ 26,62 bilhões ao ano.
A proposta ainda está em consulta pública (nº 69 no site da agência) e recebe sugestões até o dia 10 de setembro. A intenção do órgão é só permitir a venda de produtos ligados a saúde e higiene pessoal. A proposta proíbe que as farmácias e drogarias funcionem como correspondentes bancários.
Só a rede Pague Menos declara que essa idéia põe em jogo 7 mil empregos diretos nos seus 280 estabelecimentos. "Os produtos ligados a conveniência respondem por 8% do faturamento, mas são os que garantem maior margem de lucro. E, embora a Anvisa pense diferente, as farmácias são empresas e precisam dar lucro", diz o presidente do grupo Pague Menos Francisco Deusmar de Queirós. Segundo ele, em algumas cidades pequenas do País, os alimentos e bebidas correspondem a 15% do faturamento de uma loja. "Além disso, qual o problema de as farmácias venderem outros produtos que não medicamentos? "Nos Estados Unidos, as drugstores vendem mais de 20 mil itens", afirma Queirós.
Em relação ao trabalho como correspondente bancário, Queirós afirma que isso é também apenas um outro serviço de conveniência para o cliente. "Os bancos abrem das 10 horas às 16 horas. As farmácias, das 7 horas às 22 horas. Onde é mais fácil pagar uma conta?" A rede Pague Menos atende cerca de 2 milhões de clientes ao mês como correspondente bancário.
Outras redes preferiram não se manifestar antes do fim da consulta pública e da determinação da Anvisa. Mas o Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos de São Paulo (Sincofarma-SP) informa que estão todas preocupadas com a questão porque a venda de alimentos e bebidas já está consolidada no setor. "Somos contra a venda de itens que descaracterizem o comércio de produtos ligados à saúde, como eletroeletrônicos, mas comida e bebida não faz mal a ninguém", diz o assessor econômico do Sincofarma-SP, Geraldo Monteiro.
Segundo a Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), a venda desses produtos faz diferença no faturamento do setor, afinal, diz o presidente da entidade, Sérgio Mena Barreto, "a margem de lucro com medicamentos não passa de 0,83% nas 26 maiores redes do Brasil". O País conta com 55 mil farmácias e drogarias.
A lei federal que regulamenta o setor (nº 5.991) é de 1973 e estabelece que os estados e municípios determinem o que pode ser vendido nas farmácias e drogarias. Segundo o Sincofarma-SP, a maior parte dos estados permite o comércio de alimentos e bebidas nas farmácias. Em alguns, como Paraíba e Rio Grande do Norte, os estabelecimentos podem vender até mesmo carvão. Em São Paulo, atualmente está em vigor a lei 12.623, que foi promulgada pela Assembléia Legislativa no mês passado. A Lei permite a comercialização de recarga de celulares, pilhas, alimentos e bebidas